Experiências, conhecimentos, projetos e ações sobre gestão do turismo foram amplamente debatidos e compartilhados nesta quinta-feira, 14/5, na Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig). Mais de 60 representantes do trade turístico participaram do evento “Caso de sucesso: o sistema de gestão do turismo implantado em Bonito (MS)”, promovido pela Codemig e pela Secretaria de Estado de Turismo de Minas Gerais (Setur). Entidades e pessoas ligadas ao segmento, bem como prefeituras, secretarias e instituições de ensino, foram convidadas para o seminário, que abordou a gestão e a comercialização do destino turístico de Bonito, além da interface entre Poder Público e iniciativa privada. A cidade sul-mato-grossense foi eleita o melhor destino de ecoturismo responsável do mundo, com o prêmio internacional World Responsible Tourism Awards, entregue em 2013 durante o World Travel Market, um dos maiores eventos do setor.
Na abertura do encontro, o diretor-presidente da Codemig, Marco Antônio Castello Branco, deu as boas-vindas aos participantes e realçou a qualidade da gestão e da programação de Bonito. Ele também destacou um dos novos eixos estratégicos da Companhia: o fomento à indústria criativa, cadeia produtiva composta pelos ciclos de criação, produção e distribuição de bens e serviços que usam criatividade e capital intelectual como insumos primários. Empresa pública controlada pelo Estado, a Codemig é referência em desenvolvimento regional e investe em diversos segmentos, como mineração, pesquisa de óleo e gás natural, hotelaria, parques e balneários, águas minerais, distritos industriais, centros de feiras e exposições (Expominas), incentivo à cultura e ao turismo.
Em sua fala, o secretário de Estado de Turismo de Minas Gerais, Mário Henrique Caixa, enfatizou o vasto potencial turístico mineiro e enalteceu a iniciativa do evento: “A troca de experiências é muito importante”. Ele frisou que a Setur e a Codemig caminharão juntas, em prol do desenvolvimento socioeconômico do Estado. Dados da Pesquisa de Demanda Turística 2014, apresentada pela pasta estadual de Turismo, revelam que 32,9% dos visitantes pesquisados viajaram por Minas Gerais a lazer, 25,2% o fizeram para visitar amigos/parentes, e 22,7%, para negócios. Da parcela motivada pelo lazer, 44,7% focaram no turismo cultural, 34% optaram pelo ecoturismo, e 10% buscaram eventos ou diversão noturna.
O caso de sucesso de Bonito
A palestra foi ministrada pela secretária municipal de Turismo, Indústria e Comércio de Bonito, Juliane Ferreira Salvadori, e pelo presidente da Associação dos Atrativos Turísticos de Bonito e Região (Atratur) e do Conselho Municipal de Turismo de Bonito (Comtur), Marcos Dias Soares. Os palestrantes apontaram que Bonito teve destaque no cenário nacional com o controle de impactos dos visitantes e a criação de áreas protegidas, tanto privadas como públicas, a exemplo do Parque Nacional da Serra da Bodoquena. De acordo com eles, o êxito do destino turístico é resultado da visão de pioneiros do ecoturismo e da posterior gestão participativa de empresários, proprietários de terras privadas, instituições públicas e organizações não governamentais.
A cidade está localizada na região da Serra da Bodoquena, próximo ao Pantanal. “A mão divina foi grande em concentrar tanta beleza num só lugar”, pontuou Marcos Soares. O município, fundado em 1927 e emancipado em 1948, conta com 4.934 km2 e cerca de 20 mil habitantes. Segundo Marcos, mais de 50% do emprego formal na cidade é gerado pelo turismo.
O município possui em torno de 50 agências de turismo receptivas e mais de 40 sítios turísticos, com opções de passeios em grutas, rios, nascentes e cachoeiras. Todos esses atrativos contam com licenciamento ambiental, como acentuou Juliane Salvadori. “Temos uma legislação ambiental forte, comprometida com a região”, afirmou. Além disso, comentou que alunos do ensino fundamental aprendem noções básicas de turismo e meio ambiente, “para despertar o senso de pertencimento e suas potencialidades como profissionais de turismo”.
Juliane explicou, ainda, a preferência pelo uso do termo “turismo responsável”, ao invés de “sustentável”. “Como mensurar o que é sustentável? Não temos parâmetros para isso”, ponderou. Entre os objetivos do sistema de gestão de Bonito apresentados na palestra, estão: preservar os atrativos naturais, base para o turismo no destino; fornecer aos turistas experiências e serviços de qualidade, seguros e sustentáveis; manter uma cadeia produtiva de valor para a comunidade local, por meio do turismo responsável; e oferecer oportunidades para as pequenas empresas e a população.
Uma das mais famosas e bem-sucedidas ações desenvolvidas em Bonito é o voucher único, sistema que permite a reserva e a compra de passeios turísticos por meio de um único programa. O mecanismo, implantado no município há 20 anos, também possibilita controlar a quantidade de visitantes e vendas para determinado passeio, considerando a capacidade de carga do atrativo e protegendo o meio ambiente. Além da organização, do acesso e do ingresso de usuários, o voucher ainda confere transparência à arrecadação de tributos. Visitantes podem adquiri-lo em agências de turismo da cidade, sendo que cada passeio tem o mesmo valor nas distintas agências. Criada pelo Conselho Municipal de Turismo, a ferramenta, hoje digital, é considerada por Juliane como divisor de águas e grande instrumento organizador de toda a atividade turística local.
Todos os atrativos naturais de Bonito têm limites de visitantes por dia, com base na capacidade de carga de cada um deles. Nos passeios, é obrigatório o acompanhamento de um guia de turismo, credenciado pelo Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) e responsável por organizar os grupos nos passeios e transmitir as informações necessárias sobre o local, segurança e meio ambiente. Dados da Prefeitura de Bonito indicam que 240 mil turistas visitaram o local em 2013.