Apesar de uma apreensão inicial do público, a concessão de parques públicos tem se mostrado bastante eficiente no País.
Mudança, em sua essência, é uma troca — um processo de substituir uma coisa por outra, como nos ensina a etimologia do latim cambiare. E, embora toda mudança possa tocar em feridas, provocar medo e incertezas, é justamente por meio dessas transições que avançamos e criamos novas oportunidades. A concessão de parques públicos exemplifica essa dinâmica. Inicialmente, a população pode se sentir apreensiva, mas quando a modelagem é bem feita, com diálogo com a comunidade, o medo é substituído pelo sentimento de pertencimento e cuidado.
Um exemplo emblemático é o Parque Ibirapuera, um ícone de São Paulo. Durante anos, a população ansiava por um espaço ao ar livre de qualidade, em meio à rotina frenética da cidade. Quando a concessão foi proposta, houve resistência. Hoje, essa resistência dissipou-se, e o parque é amplamente abraçado pela população, tornando-se uma referência nacional que atrai milhares de visitantes diariamente. Com duração prevista de até 35 anos, a concessão estima ganhos de mais de R$1,6 bilhão aos cofres públicos, além de prever mecanismos de avaliação de performance em zeladoria, conservação dos recursos, bem-estar e experiência do usuário. Um modelo transparente que garante que todas as partes sejam ouvidas, respeitadas e beneficiadas.
Grandes marcas também têm se aliado ao poder executivo em processos de concessão. Um exemplo recente é o estádio Pacaembu, que vendeu o naming rights por R$1 bilhão, passando a se chamar Mercado Livre Arena. Esse acordo de 30 anos é o maior valor contratual da história da compra de naming rights de uma arena de futebol brasileira. Mais do que uma ativação de marketing, essa iniciativa estratégica conecta a marca ao ecossistema de um equipamento urbano simbólico, beneficiando os cofres públicos e trazendo novos investimentos para a cidade.
Para Minas Gerais, um estado com vocação natural para parques belíssimos, repletos de história e natureza, as concessões podem trazer inúmeros benefícios. A licitação para o Parque das Águas de Caxambu, por exemplo, marcada para setembro deste ano, tem enfrentado resistência de parte da comunidade. No entanto, a concessão pode agregar valor ao parque, proporcionando lazer, gerando empregos e impulsionando o turismo. Além disso, pode fortalecer o Circuito das Águas de Minas Gerais, valorizar nossos ativos e destacar as belezas do estado para o mundo. Tudo isso sem tirar do centro a nossa cultura, meio ambiente e comunidade. A resistência é natural, mas, como vimos em outros exemplos, ela tende a dissipar-se com o diálogo e a implementação de ações concretas.
Recentemente, também foi celebrada a concessão dos parques estaduais do Ibitipoca e Itacolomi pelos próximos 30 anos. Esse projeto prevê um investimento de R$15 milhões nos próximos seis anos, abrangendo atividades de ecoturismo, visitação e gestão dos atrativos. A administração dessas unidades continuará sob a responsabilidade do Instituto Estadual de Florestas-IEF, enquanto a concessionária será encarregada da modernização e implantação de infraestrutura. O contrato prevê isenções e descontos para públicos específicos, como moradores locais, garantindo que a comunidade não seja prejudicada.
Ao olharmos para o futuro de Minas Gerais, percebemos que o desenvolvimento pode e deve estar entrelaçado com nossas raízes culturais. A concessão de parques públicos, quando bem planejada e executada, é uma poderosa ferramenta para transformar espaços, valorizar nosso patrimônio e gerar benefícios para toda a sociedade. O exemplo do Ibirapuera e os recentes contratos em Minas são testemunhos de que, com coragem e visão, podemos criar um futuro melhor. Mudanças sempre trazem incertezas, mas também abrem portas. A concessão de parques públicos fortalece nossa capacidade de inovar e crescer, respeitando raízes e culturas, além de ser uma importante alavanca para o desenvolvimento econômico e turístico.
(Artigo publicado publicado no Diário do Comércio )